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FAMÍLIA DE OURIVES

Década de 1940. A perseguição nazista obriga milhares de judeus a deixar a Europa. Nesse fluxo, meu avós da família Basch deixam a Romênia para viver em Israel e, depois de oito anos, escolhem São Paulo como destino para recomeçar a vida, bem longe da Guerra. Na bagagem, apenas algumas roupas e fotos. Na cabeça, a esperança de continuar desenvolvendo aqui os ofícios aos quais os homens da família se dedicavam na Romênia: a joalheria e a ourivesaria.
 

Nessa época e em toda a Idade Moderna era muito comum que os judeus trabalhassem no mercado de joias, pois, diante de situações de fuga, típicas de guerras e perseguições, elas podiam ser carregadas com discrição e convertidas em dinheiro rapidamente.

Meu pai (Mathew), minha avó (Paulina, como eu), meu avô (Alexandre) e meu tio (Henry), antes da vinda para o Brasil.

Meu tesouro: instrumentos de medição de pedras e ferramentas de ourivesaria herdadas de minha família.

O centro de São Paulo, que já funcionava como ponto de convergência de diversas joalherias, foi o local escolhido pelo meu tio-avô, Jaques, e pelo meu avô, Alexandre, para fundar duas casas, mantidas pela família por quatro décadas. Meu pai, Mathew, sempre se manteve distante do ofício da família e acabou seguindo outra grande profissão: a de médico.
 

Mas, diante da morte do seu irmão e do seu tio, ele se deparou com a herança de centenas de pedras das duas joalherias. Ficou fascinado por elas: desempacotava uma a uma e ficava fitando, por horas. As pedras se tornaram o único vínculo do meu pai com a família e com sua terra natal. A certa altura, estava tão envolvido por elas que decidiu estudar ourivesaria. Mas não teve tempo para realizar esse sonho.

As pedras que herdei, em suas embalagens originais, dos anos 60 e 70

ME APAIXONO PELAS PEDRAS

E é assim que essa história chega até mim: quando meu pai morreu, me tornei a única herdeira dessa família, dessa trajetória e dessas pedras. Por nove anos, segui com minha vida e minha carreira como médica especialista em cuidados paliativos. Nesse meu mundo, a beleza que eu compartilhava estava mais nas atitudes dos doentes, das famílias e das equipes de saúde dos hospitais, nos pequenos confortos que conseguíamos garantir a pacientes em estado terminal, do que em bens materiais e, muito menos, em joias.

 Mas, há cerca de um ano, senti que faltava alguma peça para eu me encaixar no réplicas de relógios conjunto de histórias da minha própria vida. Saí em busca dela e, um dia, as pedras que herdei me voltaram à memória. Decidi abri-las e finalmente entendi o que aconteceu com meus antepassados: fui também fisgada por elas. Cada uma com uma característica, uma história, esperando pacientemente para ser ressignificada em uma joia a ser usada por alguém.

Como não se apaixonar?

DE MÉDICA A OURIVES

Senti que era hora de descobrir os segredos que a ourivesaria guardava para mim. Arte e alquimia resultando na possibilidade de criar, moldar, fundir e traduzir sentimentos e desejos em uma joia. A vocação da família retomada, só que de um jeito diferente, coerente com minha própria trajetória. 
 

Me inscrevi no curso de Joalheria Fundamental do Ateliê Labriola. Na primeira aula, já tive certeza de que essa era a peça que faltava. Os metais se fundindo sob o fogo, se curvando com a ajuda de alicates e martelos. Química, Física, Matemática e Arte unidas em um ofício. E de tudo isso emergindo peças únicas, que eu ia fazendo pensando em mim ou em outras pessoas.

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Os amigos começaram a fazer suas encomendas. Aproveitei minha formação em Medicina e todos os anos trabalhando como médica para desenvolver uma anamneses específica e entender melhor o que cada um queria que aquela peça expressasse ou significasse, de acordo com seu momento de vida, suas conquistas, medos, forças e fraquezas. Nesse processo, comecei a traçar um novo percurso, mais profundo, de confeccionar joias que expressam desejos, projetos, momentos, desafios… Joias que ajudam a lapidar a alma. Foi dessa fusão de vidas e histórias que surgiu a Minha ourivesaria.

"Nada é capaz de descrever a sensação de fazer uma joia emergir da alquimia dos metais e do uso paciente e amoroso de cada ferramenta"
Paulina Basch 

réplicas de relógios
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